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Manobras diversionistas

Deputado Luiz Carreira (BA)

A grave crise econômica que se abateu sobre o mundo, ao que tudo indica, não vai provocar apenas "uma marolinha" no Brasil, como falou o presidente Lula, de forma equivocada. Temos, sim, é que nos preparar seriamente para enfrentar uma tormenta de proporções ainda não muito precisas.

Por mais que se tente esconder, a crise no sistema bancário nos Estados Unidos tem provocado quedas generalizadas e sistêmicas nas bolsas de todo mundo e gerado muitas dúvidas sobre a economia global. A recessão econômica já é uma realidade na Europa e nos Estados Unidos e é imprevisível a forma como esta "tsunami econômica" irá afetar aos demais países.

Uma das principais vias de contágio da crise internacional se dá por meio da falta de crédito. Com a crise atual, há menos dinheiro no mercado e bancos, em todo o mundo, estão mais cautelosos, têm diminuído seus empréstimos e cobrado mais caro por eles. O medo toma conta de todos, e esse medo leva a uma profunda retração de investimentos.

Na opinião do economista Nathan Blanche, da consultoria Tendências, é nessa área que está o maior perigo para a economia brasileira no médio e longo prazos. "As empresas devem conseguir continuar rolando suas dívidas, mas o mercado está mais difícil e algumas devem inclusive optar por não buscar dinheiro novo", afirma ele.

Além disso, os bancos brasileiros também já estão encontrando taxas muito altas para tomar empréstimos no exterior. A expectativa é que essa situação afete o crescimento do crédito no Brasil,de forma geral, e a capacidade de investimento das empresas, em particular. A falta de crédito internacional também pode afetar empresas estrangeiras que planejam fazer investimentos diretos no Brasil.

O melhor termômetro para se aferir esse processo de medo crônico passa a ser o comportamento das bolsas de valores. Observamos, sistematicamente, quedas estrondosas por toda parte, seja nas bolsas européias, seja nas asiáticas. Na bolsa brasileira, a Bovespa, não tem sido diferente. Ela tem sofrido sucessivas quedas e nos primeiros dez meses do ano já havia acumulado perdas da ordem de 33% (com a volatilidade, esses valores têm mudado muito rapidamente).

Aliás, a alta do dólar pode atrapalhar no combate a inflação. Segundo cálculos da consultoria Tendências, cada variação de dez pontos percentuais no dólar tende a gerar um ponto percentual de elevação trimestral do índice de inflação IPCA. Desde o começo de 2008 até meados de outubro, a alta acumulada do dólar estava variando entre 35% e 36%. Essa alta, certamente, irá pesar na avaliação do Banco Central sobre a subida dos juros, forçando-nos a retornar à ciranda financeira.

É fato que nos últimos cinco anos o Brasil tem tido grandes superávits na balança comercial e um aumento crescente dos valores vendidos no exterior. Segundo dados do Banco Central, as exportações saltaram de US$ 73 bilhões, em 2003, para US$ 160 bilhões, no ano passado. Em 2007, o Brasil teve um superávit recorde de US$ 46 bilhões.

Porém, sabemos que uma boa parte desse aumento se deve à subida dos preços dos produtos brasileiros no exterior e não à venda de mais produtos. Agora o preço das commodities agrícolas e minerais, grandes responsáveis pela melhora nos valores, estão em queda vertiginosa. Para se ter uma idéia, o preço do barril de petróleo já caiu mais da metade do preço que ostentava no início de julho (de US$ 145,29 para US$ 66,72 o barril).

Além da queda dos valores, existe a expectativa de que o crescimento mundial retroceda, especialmente em 2009, o que deve significar menos comércio internacional e o risco de uma redução das exportações brasileiras, ainda que a desvalorização do Real torne, em curto prazo, os produtos brasileiros mais competitivos e dificulte as importações.

Apesar das mudanças no cenário internacional, o ministro Mantega ainda vem à Câmara dos Deputados e afirma que mantém suas estimativas para 2008, com um forte aumento das exportações, na casa dos US$ 190 bilhões, e um superávit comercial de US$ 20 bilhões. A quem mais o governo Lula pretende continuar enganando?

As oposições, ao contrário do que o governo do PT teima sempre em alardear, não desejam, de forma alguma, a derrocada da economia nacional. Muito ao contrário. Queremos uma discussão séria, estamos totalmente à disposição para colaborar. A única coisa que pedimos é transparência e honestidade de ações. Onde já se viu dizer que "esse será o melhor Natal de todos os tempos"? Como é que o presidente da República e seu ministro da Fazenda afirmam que seria "uma crise localizada e passageira"? Em contraposição, o presidente Sarkozy, da França, afirmou que crise financeira "põe em perigo o próprio futuro da humanidade".

Um dos poucos consensos é que, em meio à atual crise, a economia brasileira deve diminuir seu ritmo de crescimento. Tudo indica que, para 2009, o PIB vai ficar, com sorte, entre 3,0% e 3,5%, embora muitos analistas já afirmem que não passa de 2,0%. E é preciso estar preparado para isso! Sem ilusões.

O momento é de união e trabalho sério. Não é com mentiras que se reverte o medo e se traz a esperança de volta! As oposições estão empenhadas em ajudar, mas é preciso e esperado que o governo faça a sua parte, sem lançar mão de manobras diversionistas.

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