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Rodrigo: "Governo blefou e perdeu. E não entende direito o que é uma democracia"

O governo chegou a anunciar uma debandada em massa de democratas, que retirariam suas respectivas assinaturas da CPI da Petrobras. Era um blefe. Um único senador do partido mudou de idéia — e dois outros já não haviam assinado. Maia acha que o partido saiu fortalecido do episódio porque conseguiu resistir ao assédio oficial — segundo ele, a mobilização contra a CPI da Petrobras foi inédita, superior àquela para impedir a investigação do mensalão.

O presidente do DEM diz ainda que o governo e os petistas não entendem direito como funciona uma democracia. Ele afirma que é legítimo que governos tentem impedir a instalação de CPIs, mas que há modos de fazê-lo. Segundo Maia, “essa história de que falta patriotismo, como disse o presidente Lula, ou de que a investigação vai dificultar os negócios da empresa, como disse a ministra Dilma Rousseff, é uma tentativa de intimidação, não é linguagem política”. E indaga: “O que eles querem dizer? Que, mesmo que haja irregularidades, a gente não deve investigar nada para não prejudicar o país?" E arremata: "Há uma contradição essencial nesse pensamento: então seria preciso condescender com o que está errado para proteger o Brasil? Quer dizer que o que nos prejudica é o que nos salva?” Segue a entrevista:

 

Blog - Como o senhor explica o desfecho dessa história da instalação da CPI da Petrobras?

Rodrigo Maia – O governo blefou. E perdeu feio.

    
No seu partido, os senadores Eliseu Resende (MG) e Rosalba Ciarlini (RN) não assinaram o requerimento, e um outro, Adelmir Santana (DF), retirou a assinatura. O partido está dividido?

Não, não está. De jeito nenhum! O governo gostaria que estivesse e fez muita morolinha com essa história. Não tínhamos uma espécie de fechamento de questão em torno da CPI. A direção do partido acha que a investigação é necessária, mas cada senador decidiu segundo a sua consciência. Rosalba e Eliseu Resende não quiseram assinar? A gente respeitou a decisão deles.

      
É, mas a retirada de assinaturas já é uma coisa mais complicada, não? Resta sempre uma suspeita de que o governo tem instrumentos não muito republicanos para pressionar os senadores.

Concordo. Os senadores do Democratas sabiam disso. Mas é bom ficar claro que nunca houve esse risco de uma fuga em massa de assinaturas. Isso foi uma plantação do governo. Muito bem feita, por sinal. Mas, como se viu, falsa. O nosso líder, Agripino Maia (RN), havia dito ontem no seu blog que não haveria esse movimento, mas o governo passou o dia alimentando o noticiário com isso, dizendo até que guardaria os nomes em sigilo.

     
Mas houve uma defecção, de Adelmir Santana, do Distrito Federal.

Uma, não sete, como chegaram a dizer. E tenho certeza de que não houve nada aí de que ele possa se envergonhar.

      
O senhor se lembra de ter visto outra mobilização oficial como essa contra uma CPI?

Não me lembro. Se quiser saber, ela chegou a ser mais intensa do que aquela para evitar a CPI do Mensalão. Toda a base passou a pressionar de um jeito realmente impressionante.

      
E por que escolheram justamente o DEM como alvo principal?

Porque entenderam errado o resultado da reunião de líderes. O fato de o partido aceitar ouvir numa comissão o Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, não quer dizer que esteja flertando com o fim da CPI. Mas o governo achou que já tinha liquidado essa fatura e pautou boa parte da imprensa com uma falsidade: o DEM seria contrário à CPI.


Qual é a sua hipótese para essa mobilização toda?

Não tenho cem por cento de clareza, mas me parece que o governo tem receio de ver expostos, no detalhe, alguns fatos que indicam má gestão ou gestão temerária na Petrobras.

     
O governo vai tentar satanizar as oposições. O trabalho já começou. Os que querem a CPI estão sendo chamados de “antipatriotas” por Lula. Franklin Martins sugere que estão lutando contra os interesses nacionais. O senhor teme esse movimento?

Não! A CPI, na verdade, é em defesa da Petrobras. Quem age de maneira pouco ortodoxa na empresa é que atua contra os seus interesses. Não é o nosso caso. Isso demonstra o viés autoritário do governo, como se não fosse próprio das democracias haver CPI. Sempre que eles são investigados, acusam conspiração. Já quando eles querem fazer alguma investigação, aí seu esforço é sempre legítimo. Conhecemos essa tática.

     
Esse governo entende direito o que é a democracia?

Sinceramente, acho que não. Está acostumado a pressionar para que compromissos individuais se sobreponham sempre aos compromissos partidários. Faz parte do esforço permanente de tentar desconstituir a oposição.

     
Mas o DEM, quando PFL, no governo FHC, também tentou evitar CPIs. No Distrito Federal, vocês são a situação. Duvido que apóiem a oposição numa proposta de comissão de inquérito. Caso vocês voltem ao poder, os petistas tentarão CPIs, e vocês tentarão evitar, certo?

Claro que sim. Entenda bem: eu não estou dizendo que o papel do governo é facilitar CPIs. Governos no mundo inteiro, por mais democráticos que sejam, preferem impedir investigação. Comissão parlamentar de inquérito é própria, embora não uma prerrogativa, das minorias. Não estou, em absoluto, censurando o governo porque tentou impedir a instalação da CPI. Censuro, isto sim, os métodos usados e esse discurso apocalíptico.

      
Que discurso?

Essa história de que é falta de patriotismo, como disse o presidente Lula, ou de que a investigação vai dificultar os negócios da empresa, como disse a ministra Dilma Rousseff. Isso é uma tentativa de intimidação. Não é linguagem política. O que eles querem dizer? Que, mesmo que haja irregularidades, a gente não deve investigar nada para não prejudicar o país? Há uma contradição essencial nesse pensamento: então seria preciso condescender com o que está errado para proteger o Brasil? Quer dizer que o que nos prejudica é o que nos salva? Isso não existe. Ninguém está interessado em prejudicar a Petrobras. Todos estamos interessados em preservar a empresa, inclusive daqueles que podem estar se aproveitando dela para práticas não muito republicanas. Uma vez instalada uma comissão, o governo, qualquer governo, nosso ou de outros, tem a obrigação de colaborar com a investigação para que tudo fique claro.

     
Até agora, qual é o saldo para o DEM, depois de ter sido considerado um lago bastante generoso para a pescaria governista?

O saldo para o partido é positivo. O que se viu foi uma demonstração de unidade. Dos nossos 14 senadores, apenas três não assinaram o requerimento. Mas não se trata de nenhuma oposição à investigação. O partido demonstrou que pode resistir com grandeza ao assédio governista. O maior que já vi desde que o PT está no poder. E foi também a derrota do blefe. Será melhor para a Petrobras, para a democracia e para o país.

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