Suscribirte al NOTICIERO DC
correo

Estatuto mestiço sem o germe da discriminação

Não poderíamos aceitar que uma legislação produzida em pleno século XXI fosse pautada pelo conservadorismo e trouxesse em seu bojo conceitos arcaicos e discriminadores

Onyx Lorenzoni

O Estatuto da Igualdade Racial, aprovado recentemente, na comissão especial da Câmara, é fruto do diálogo, da flexibilização e da vontade de implementar um regramento que verdadeiramente funcione. Por ser neto de imigrantes, sei da importância da valorização e do reconhecimento de uma cultura.

Ainda mais, como é o caso da cultura negra, rica em simbolismos e significados. Afinal, não podemos esquecer que, em inúmeros estudos e teorias, a África é apontada como o berço das civilizações e com ela todo o arcabouço cultural.

Assim sendo, não poderia, junto com meus pares, concordar com uma norma que, em vez de propiciar oportunidades, apresentava-se como um divisor de nossa sociedade. Foi partindo dessa premissa que teve início a construção de um entendimento que permitisse colocar um ponto final nas obstruções para a votação desse texto.

Cabe destacar a profícua conversa mantida com o ministro da Igualdade Social, Edson Santos, às vésperas da votação, quando foi possível demonstrar que o instrumento regimental adotado pela oposição nada mais era do que a certeza de oferecer um Estatuto eficaz aos negros, pardos e mestiços brasileiros que tanto orgulham a essa nação.

Não podemos esquecer que a abolição da escravatura aconteceu em 1888, quando a princesa Isabel assegurou a liberdade aos negros. De lá para cá, todos são iguais e a todos são oferecidas as mesmas oportunidades. Assim como as mulheres, que apenas no século XX conquistaram o direito de votar e trabalhar, inclusive recebendo remuneração igual ou superior àquela ofertada aos homens.

Definições genéricas - E é com essa convicção que entendemos que não poderíamos aceitar que uma legislação produzida em pleno século XXI fosse pautada pelo conservadorismo e trouxesse em seu bojo conceitos arcaicos e discriminadores. Preferimos a instituição de definições genéricas, como as que atualmente encontramos contempladas na Carta Magna.

Acreditamos ainda que os ajustes propostos ao Estatuto, em discussão no Congresso Nacional, asseguram a promoção do negro e, diferentemente da ideia original, não carrega a sina racial. Não tenho dúvida alguma de que a comissão especial instituída para tratar desse tema tão relevante conseguiu aprovar um relatório mestiço que propiciará a promoção do negro sem trazer o germe da discriminação racial e, ao mesmo tempo, impedindo que em futuro, próximo ou longínquo, tenhamos no seio de nossa comunidade a formação de castas.

1 comentario:

Nação Mestiça dijo...

Movimento Pardo-Mestiço Brasileiro

NAÇÃO MESTIÇA

NOTA DE REPÚDIO CONTRA O PL DO ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL

E CONTRA A LIMPEZA ÉTNICA DOS MESTIÇOS BRASILEIROS


O MOVIMENTO PARDO MESTIÇO BRASILEIRO - NAÇÃO MESTIÇA vem expressar seu mais veemente repúdio ao Projeto de Lei de iniciativa do Senador PAULO PAIM (PT-RS) aprovado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, no dia 9 de setembro de 2009, que visa instituir o Estatuto da Igualdade Racial.

Divide oficialmente os brasileiros em categorias raciais com direitos diferenciados. Este PL violenta a cidadania brasileira, criando diferentes categorias de brasileiros com base na idéia de raça, favorecendo a fragmentação do povo brasileiro e a destruição da unidade nacional.

Impõe a identidade negra aos pardos. O PL inclui arbitrariamente a população parda no segmento 'negro' ("Art. 1º, Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto considera-se: (...) IV - população negra: o conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor/raça usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou adotam autodefinição análoga"). Entre outras consequências, caso este PL racista seja aprovado, efetivará a limpeza étnica oficial dos mestiços brasileiros, com os quais historicamente relaciona-se a categoria 'pardo' dos censos oficiais brasileiros. Representará a imposição da identidade negra a mulatos, cafuzos, caboclos (mestiços de indígenas e brancos) e a mestiços descendentes de japoneses e de outras populações imigrantes.

Não é um "Estatuto Mestiço", mas sim promotor da limpeza étnica do mestiço brasileiro. Repudiamos a declaração do deputado ONIX LORENZONI (DEM-RS) de que, "Foi a aprovação de um relatório mestiço que faz a promoção do negro sem trazer o germe da racialização". Muito pelo contrário, o texto aprovado pela Comissão Especial e que, sem ter consultado representações do Movimento Mestiço e sem passar pelo Plenário da Câmara, será levado ao Senado, oficializará, caso aprovado, a negação da identidade mestiça do povo brasileiro e a divisão da Nação brasileira em raças impostas pelo Estado.

Conclamamos a sociedade brasileira a repudiar tal projeto racista e antipatriótico e em especial aos parlamentares do Congresso Nacional a não permitirem sua aprovação, impedindo o acirramento de conflitos raciais e étnicos em nosso país.

Manaus (AM), 11 de setembro de 2009.

HELDERLI CASTRO DE SÁ
Presidente
http://www.nacaomestica.org/nota_de_repudio_090911_estatuto_pl_lor