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Dárcy Vera é aposta dos Democratas na área social

A aposta dos Democratas para construir uma vitrine na área social é a administração da deputada Dárcy da Silva Vera, a primeira mulher eleita prefeita de Ribeirão Preto, uma das mais ricas e populosas cidades do interior do País. A quebra de paradigma na capital nacional do agronegócios não pára aí. A partir do próximo dia primeiro, quando se inicia o novo mandato que vai até 2012 nas administrações municipais, será interrompido um ciclo de meio século de comando político local alternado entre PSDB e PT – inclusive as duas gestões do ex-ministro Antonio Palocci – , com rápida passagem do PMDB. O ex-PFL – agora Democratas – nunca tinha conquistado o posto. Ao lado da reeleição de Gilberto Kassab – padrinho político de Darcy –, a vitória de Darcy é considerada um trunfo para a legenda.

"Quero mudar a cara da cidade. A diferença vai aparecer tanto na área social, que caracteriza toda a minha trajetória na política, quanto no desenvolvimento econômico", afirma Dárcy. Embora estreando no Executivo, ela completa meio mandato de deputada estadual, para o qual foi eleita depois de quatro mandatos consecutivos na Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto. Espontânea, a prefeita eleita faz questão de falar de sua origem humilde: nascida em Indiaporã, no interior paulista, é filha de trabalhadores rurais das lavouras de algodão, como boa parte da população pobre, que sobrevive também das lavouras de cana-de-açúcar e café. Foi babá em São José do Rio Preto e quando se mudou para Ribeirão Preto ganhou a vida como empregada doméstica e vendedora de panelas de porta em porta, até conseguir um estágio numa emissora de rádio – quando deu o primeiro passo para se tornar a voz feminina mais conhecida da região.

"Minha mãe, uma mulher simples, mas de grande sabedoria, sempre dizia que a gente pode chegar onde quer e que a situação financeira não diferencia as pessoas, mas sim as atitudes", conta Dárcy. Foi com esse espírito que ela diz ter enfrentado as dificuldades comuns aos jovens de camadas sociais populares. "Agarrei a oportunidade na rádio, ocupava os horários da madrugada, a audiência cresceu e isso me promoveu para um programa durante o período da manhã. Não demorou muito tempo, foi possível ingressar numa faculdade de comunicação social, mas ainda tive de vender sonho e brigadeiro para pagar a mensalidade", relata. A popularidade como locutora cresceu movida por uma atuação na periferia da cidade. Dali para o início de uma carreira política foi um pulo. Em 1992 tornou-se a primeira vereadora suplente, assumindo a função em 1995.

No PFL – atual Democratas – desde o seu segundo mandato (1996-2000), em 2003 ela foi a primeira mulher a assumir a presidência da Câmara de Vereadores. Em 2004, Dárcy foi a vereadora mais votada da história de Ribeirão Preto e do Brasil nas cidades que disputaram o segundo turno, com 9,88% dos votos válidos. Em 2006 foi eleita deputada estadual com 140.712 votos, sendo a mulher mais votada do país para assembléias legislativas. Neste ano, numa disputa acirrada com sete candidatos - homens, diga-se de passagem, candidatos de partidos com forte tradição na administração local, como o PT, e PSDB – foi eleita, em primeiro turno, a primeira mulher prefeita de Ribeirão Preto com 154.793 votos, o que significa 52% dos votos válidos.

Embora considere o cargo de prefeitura de Ribeirão Preto o maior de todos os desafios de sua vida, Dárcy afirma que está disposta a "deixar uma história bonita" de sua passagem pelo cargo. Para isso, ela não economiza ousadia, característica do caminho trilhado até agora. "Pelas características culturais da região, marcadamente de origem rural, a população de Ribeirão Preto sempre preferiu ser governada por prefeitos de perfil tradicional. De repente chega uma mulher com quatro filhos, dos quais dois adotivos, separada e amaziada há quatro anos com meu futuro marido. Ou seja, o oposto do que a cidade sempre buscou", diz Dárcy, bem-humorada, para descrever o contraste entre ela e os políticos que ocuparam a cadeira de chefe do Executivo local. Mãe de Mônica, Leandro, Vitória e Melmoara, ela vive com Mandrison de Almeida, com quem vai casar em breve. "Tenho orgulho de quebrar tantos tabus ao mesmo tempo. Sou uma mulher comum como a grande maioria da população não só da minha cidade, mas do Brasil", completa.

A marca que Dárcy quer imprimir na cidade contempla um toque feminino - "para deixar as ruas e avenidas ainda mais bonitas" - não abre mão do apelido de "rainha da favela" conquistado pela longa atuação junto à população carente., mas está focada, a partir de agora, em uma estratégia mais ambiciosa de enfrentamento dos problemas sociais. Dando continuidade ao pioneirismo que permitiu a vereadora e deputada estadual levar adiante projetos de lei e programas arrojados no setor da cidadania, Dárcy pretende ampliar a mobilização de centenas de empresários e outros profissionais.

Motivos não faltam. Com 504.923 habitantes, Ribeirão Preto tem um PIB per capita de Ribeirão Preto superior à média do estado de São Paulo, bem como o Índice de Desenvolvimento Humano, colocando-o como a 21ª melhor cidade para se viver no país. A região também constitui-se em um dos principais centros universitários e de pesquisa do estado e do Brasil, com destaque para as áreas médicas em Ribeirão Preto. A rede de saúde desponta como uma das mais importantes e desenvolvidas do país. São 16 hospitais e 35 unidades de saúde. O Hospital das Clínicas é um dos maiores da América Latina.

Entretanto, existem nada menos que 33 favelas grandes na cidade, faltam creches para 11 mil crianças e um elevado déficit habitacional exigirá forte intervenção do poder municipal para atender boa parte dessa demanda, segundo Dárcy. "Ribeirão Preto é uma cidade rica cercada de pobres. E sei o que é a pobreza, portanto uma das minhas prioridades é o enfrentamento da miséria, desta vez com maior alcance social, pois o Executivo dá mais condições de atuar no combate a esses problemas", afirma a futura prefeita do pólo regional considerado a "Califórnia paulista", pelo elevado padrão econômico. Ela conta com a ajuda do colega de partido, o ex-prefeito Cássio Taniguchi, que governou uma das cidades consideradas modelo em planejamento urbano.

Ao mesmo tempo que promete intensificar algumas ações que a projetaram na vida política, como o "Doutor Móvel" – consultório ambulante para atender os doentes nos bairros – e a Escola de Formação Tecnológica (ver quadro nesta página) –, Dárcy quer implementar uma série de iniciativas para mudar um pouco o perfil econômico do município, hoje fortemente calcaldo na produção de commodities. "Queremos ampliar esse leque de negócios, fortalecendo os avanços recentes, como a exportação de tecnologias na área agrícola, mas também buscando a diversificação", argumenta a prefeita eleita. Um viés do trabalho é explorar mais a vocação de pólo de atração das atividades comerciais e de prestação de serviços, cuja área de influência extrapola os limites da própria região.

Os instrumentos para alcançar esses objetivos são a criação da região metropolitana de Ribeirão Preto – para tratar de forma regional os problemas decorrentes do inchaço da periferia da cidade, provocado pelo fluxo de trabalhadores na produção de açúcar e do álcool. A cada nova safra de cana-de-açúcar, por exemplo, cerca de 50 mil migrantes do Norte e Nordeste vem para a região atrás de empregos nas lavouras da cana. Mas com a mecanização, que hoje atinge 70% das lavouras de cana da região, a quantidade de empregos diminuiu drasticamente.

Outra frente do programa de governo dos Democratas é a implantação do distrito industrial, antigo projeto da cidade. Já em janeiro a futura prefeita determinará a colocação de placas em todas as rodovias do interior do estado dizendo "Traga sua empresa para Ribeirão Preto e fale com a prefeita". No mesmo sentido vai o projeto de criar um pólo de tecnologia avançada, junto com o campus local da Universidade de São Paulo (USP), com foco nas áreas da saúde e informática.

Também vai merecer atenção uma outra vocação da cidade: o turismo de negócios e cultural, aproveitando o fato de a região congregar cidades natais de Santos Dumont (Dumont) e do artista plástico Cândido Portinari (Brodoski). Esse novo perfil da cidade exige investimentos em infra-estrutura, como a construção de uma arena multiuso e um centro de convenções. Nesse sentido também promete lutar para que a Agrishow, uma das maiores feiras do agronegócios, permaneça na cidade - os organizadores do evento demonstraram intenção de migrar de local –, conseguir que uma das delegações mundiais de futebol se hospede na cidade durante a Copa de 2014. No total, são 7 mil leitos na rede hoteleira, além de restaurantes e bares com fama internacional por causa do chopp do Pinguim, uma choperia local. Na mesma direção vai a intenção de reativar a Feapam, um feira de agropecuária. Fazer de Ribeirão integrar as sedes de jogos do camponato paulista de futebol - dia 21 de janeiro a cidade abrigará a abertura oficial da temporada, com o jogo entre Palmeiras e Santo André -, o próximo passo é transformá-la em sede de campeonatos de kart e balonismo.

Tornar realidade tantos projetos vai exigir, além da disponibilidade de Dárcy Vera, muita articulação política. Dos vinte vereadores da cidade, a coligação que a elegeu prefeita fez 13 cadeiras na Câmara Municipal, conferindo uma base de apoio importante, conforme ressalta a futura prefeita. O que a preocupa, no entanto, é o efeito da crise econômica no nível de atividade das empresas, que rebate diretamente na arrecadação de tributos municipais e no volume de recursos disponíveis para o orçamento do próximo ano, o primeiro de sua administração. "Estamos buscando alternativas, aproveitando inclusive o fato de nossa cidade ter uma estrutura e localização privilegiadas para tentar amenizar os efeitos da crise", diz.

Com um orçamento de R$ 1,2 bilhão previsto para 2009, a prefeitura carrega uma dívida de R$ 185 milhões – "40% da qual foi herdada das administrações petistas", ressalta Dárcy –, além de outros R$ 300 milhões de um passivo trabalhista decorrente de várias reajustes e que deve ser pago pelos próximos dez anos. Assim que assumir, a nova administração terá de encontrar solução para uma dívida de R$ 90 milhões do Pasep, vinda à tona recentemente. A folha de pagamento atual dos 7,9 mil servidores municipais da administração direta consome R$ 26 milhões com salários e encargos, representando 41,4% das despesas totais.

"Se a cidade fosse quitar os débitos hoje, teria 44% do orçamento comprometido com o endividamento", afirma Dárcy. O aumento expressivo na dívida foi ocasionado por decisões judiciais que determinaram o pagamento de compromissos contraídos antes do inicio da atual administração.

Segundo a futura prefeita, o que preocupa é o fato de, apesar do elevado valor do orçamento municipal, a arrecadação já começar a sentir o reflexo negativo da queda na atividade econômica. "Já temos notícias de demissão de cerca de 300 pessoas na área de revenda de veículos, e isso não é um bom sinal", ressalta. Se esse quadro se estender para outros segmentos da economia, especialmente às exportações, a situação pode ficar delicada. "Desde já estamos nos preparando para trabalhar em conjunto com as demais prefeituras da região e, dessa forma, atuar de forma mais eficaz no enfrentamento dos problemas de saúde, educação, transportes", prevê.

A crise, entretanto, não será uma barreira intransponível. "Já enfrentei desafios bem maiores na minha vida", conclui, otimista.

 

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